quarta-feira, 14 de maio de 2008

Gratidão à Rosinha Campos e Diana Moura

Em encontro gerado pela altíssima voltagem da energia Diana Moura, com pessoas muito muito afinadas e queridas surgiu o assunto "atualização de blogs". Ela e Rosinha promoveram, com tanto afeto à esta casa amarela, uma alegria semelhante ao repouso de uma suave noite de verdadeiro sono em lençóis de linho e algodão puro: presenteou-nos com o livro: "A cotovia e outras fábulas de Leonardo Da Vinci". Para retribuir tamanho carinho, a partir de hoje, postarei aqui uma a uma. Depois do breve histórico de inspiradíssimo autor, presente na última página do livro da Editora Dimensão, de Belo Horizonte, Minas Gerais.

Leonardo da Vinci, autor de fábulas? A maior parte dos leitores brasileiros estranhará a associação entre o artista e pensador italiano e o tipo de narração que, alegoricamente, encerra um ensinamento ético, político ou literário.

O Leonardo que conhecemos é, em primeiro lugar, o pintor renascentista, criador de obras-primas com oa Mona Lisa, a última Ceia, ou a Virgem dos Rochedos. As fábulas foram escritas por Esopo, Fedro ou La Fontaine, assim pensamos. Mas, na verdade, Leonardo, como homem do Renascimento, foi bem mais que um gênio da pintura e, entre outros escritos, assinou um grande número de fábulas.

Se seus quadros são imediatamente reconhecidos em nossa época, ou pelo menos os mais celebrados, é menos notória sua atividade como arquiteto e engenheiro militar. Pois o artista fiorentino também projetou a catedral de Milão e realizou estudos hidráulicos sobre os canais da cidade lombarda. De volta a Florença, desenvolveu estudos para o desvio do rio Arno e, mais tarde, em Roma, aprofundou pesquisas de óptica e matemática. A partir do vôo dos pássaros, determinou princípios para a construção de um aparelho mais pesado que o ar e capaz de voar, aproveitando a força dos ventos. Deixou esboços de um helicóptero e de um pára-quedas. E ainda tinha tempo para estudar anatomia e ser um músico que dominava a lira, instrumento de largo uso no seu tempo.

O oriente seria o berço da fábula, transposta para a Grécia, já antes de Esopo, autor do século V a.C. A fábula, para Taine, teria três momentos: uma fase de gênero sentencioso, movido pelo objetivo moral, correspondendo a Esopo; uma segunda fase, desenvolvida durante a Idade Média, quando se torna uma narrativa mais ingênua, a partir das inovações do latino Fedro, mostrando a posição do autor contra as revoltas e o crime; no século XVIII, firma-se como categoria poética, com La Fontaine, que a vê como uma pintura onde cada um de nós pode encontrar seu próprio retrato.

As fábulas de Leonardo, trazidas até nós pelo texto de Ângela Leite de Souza e pelas belas ilustrações de Rui de Oliveira, são anteriores às de La Fontaine e estariam próximas da tradição medieval. No entanto, não poderíamos chamá-las de ingênuas. Têm um componente bastante moderno ao não evidenciar tanto a moralidade. O caráter didático da fábula, que mesmo La Fontaine porá em relevo através de narrações jocosas, está mais velado em Leonardo da Vinci. Por meio de suas breves histórias, vemos sobretudo o humanista, observando a natureza e os animais darem ao homem a grande lição da vida.

Lino de Albergaria

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