quinta-feira, 22 de maio de 2008

Fábulas de Leonardo Da Vinci

O TESTAMENTO DA ÁGUIA

Houve há muito tempo uma grande águia que vivia solitária no alto de uma montanha. Mais abaixo, moravam seus filhos. Certo dia, sentindo que a morte estava próxima, chamou-os com um poderoso grito e, assim que os viu reunidos, começou a falar-lhes:

- Procurei criá-los de modo que pudessem enfrentar o sol e, com isso, voar mais alto que qualquer outra ave. Os que não conseguiam suportar a luz e o calor, deixei morrer à míngua. Portanto, vocês são tão fortes que nenhum animal se atreverá a atacar seus ninhos. Porém, assim como serão temidos e respeitados, devem igualmente respeitá-los e deixar que comam os restos de suas caças.

- Sinto que o momento de minha morte está bem próximo, continuou a dizer-lhes. Mas não quero esperá-lo aqui no meu ninho, vou em direção ao sol e chegar o mais próximo possível de seu calor, até que os raios queimem minhas velhas asas. Depois disso, cairei de volta na terra e meu corpo mergulhará nas águas. No entanto, como esse é o destino das águias, voltarei à tona pronta para iniciar uma outra vida.

Tal como dissera em seu testamento, a águia alçou vôo e majestosamente foi contornando a montanha até que, num súbito impulso, subiu rumo ao sol para que este, queimando-a, desse-lhe, enfim, o merecido descanso.







O PELICANO

Aproveitando que o pelicano saíra para buscar comida, uma cobra esgueirou-se entre os galhos da árvore e se aproximou do ninho. Ali, de pura maldade, pois não pretendia comê-los, foi matando cada um dos filhotes com o veneno de suas mordidas.


Ao voltar e deparar-se com tamanha crueldade, o pelicano feicou tão desesperado que todos os animais da floresta escutaram seus gritos e entristeceram-se com sua grande dor. Todos, menos a serpente, que ali ficara à espreita, divertindo-se com o sofrimento do pássaro.

- Não tem sentido viver sem meus filhos! Prefiro morrer também!...

E, passando da palavra à ação, começou a bicar em desepero o próprio peito que logo se abriu numa ferida.

O sangue jorrou sobre os corpos dos filhotes e, talvez porque impregnado de seu amor, devolveu a vida às pequenas aves. O pelicano pôde, então, morrer feliz.

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