quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Ruas e Personagens de Casa Amarela


Conselheiro Nabuco

Homenagem ao patrono da Assembléia Legislativa de Pernambuco. O jornalista e diplomata Joaquim Nabuco. Já na sua etapa, conselheiro.

Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo nasceu em um velho sobrado na Rua do aterro da Boa Vista, hoje Rua da Imperatriz Tereza Cristina, e ainda de pé no local, embora em precárias condições. Foi no dia 19 de Agosto de 1849. Filho de José Tomás Nabuco de Araújo, que não se rogaria a recusar a penca de Senador vindo de tal família, e Ana Benigna de Sá Barreto, igualmente importante.

Portanto, em berço de gente ilustríssima, como atesta Manuel Correia de Andrade, "uma influente família baiana que dava senadores ao Império desde o Primeiro Reinado". Enquanto, se poderia dizer que a influência dos Paes Barreto em Pernambuco, vem desde o século XVI, graças a Francisco Paes Barreto, último morgado do Cabo e marquês do Recife.

Pois, bem, foi no Cabo, há 8 de dezembro de 1849 que Joaquim Nabuco foi batizado pelos padrinho e senhores do Engenho Massangana, Joaquim Aurélio Pereira de Carvalho e d. Ana Rosa Falcão de Carvalho. E onde cresceu sob os cuidados de D'Ana, que teve grande influência na criação do menino, diante das inúmeras viagens dos pais de Nabuco à Corte. E foi no Engenho Massangana que Joaquim Nabuco viveu sua infância, até o ano de 1857, quando morre a madrinha, d'Ana. Foi ali, que conviveu de perto com a experiência da escravidão do Brasil, o que explicaria todo seu "conhecimento de causa" em argumentos para idéias abolicionistas direcionadas a seu país.

Aos oito anos, depois da morte de d. Ana Rosa, Joaquim Nabuco vai morar com os pais, no Rio Janeiro, onde faz os estudos de nível primário e secundário, sendo este último, na cidade de Nova Friburgo, em colégio dirigido pelo famoso barão de Tauthphoeus. Aos 15 anos, em 1866, Inicia os estudos de Direito na Faculdade de São Paulo, destacando-se entre os colegas, como orador. Assim, a 2 de abril de 1868, foi o orador que saudou José Bonifácio, o moço, quando este regressou à sua cidade, após perder o lugar de ministro, com a queda do Gabinete Zacarias.

Aos vinte anos, em 1869, é transferido para a Faculdade de Direito do Recife, onde se aproximou dos seus parentes maternos e de amigos; escreveu A escravidão, que permaneceu inédito até 1988, quando foi publicado pela Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, e escandalizou a sociedade da época ao defender, em um júri, um escravo negro que assassinara o senhor do Engenho.

Aos vinte eum anos, no ano de 1870, no dia 28 de janeiro é diplomado em Ciências Sociais e Jurídicas, pela Faculdade de Direito do Recife. Depois de formado volta ao Rio, para tentar a advocacia, cidade onde o pai tinha um excelente escritório. Onde acabou optando por enveredar-se pelo jornalismo, estreando no periódio A Reforma, onde defendeu os princípios monárquicos.

Já aos 23 anos de idade, em 1872, Joaquim Nabuco publicou o seu primeiro livro Camões e os Lusíadas, com 294 páginas. Depois um par de opúsculos - que vem a ser segundo dicionários: pequena obra de ciência ou literatura, arte, etc. A propósito, foram dois: O gigante da Polônia,em 1864, e O povo e o trono,em 1869.

E neste mesmo ano, conclui trabalho em homenagem a Renan, que execia grande influência em seu espírito, intitulado: Le droit du meurtre. Com o dinheiro obtido com a venda do Engenho Serraria, herdado de sua madrinha, passou um ano na Europa, viajando, em contato com intelectuais e políticos, formando ali as suas idéias "para o futuro".

Aos 27 anos, em 26 de abril de 1876 conquistou seu primeiro cargo público, o de adido de legação nos Estados Unidos, cargo que lhe proporcionou um melhor conhecimento do país, onde na velhice seria embaixador, contatos e estudos em Nova Iorque (onde viveu a maior parte do tempo) e em Washington.

Em 1878, é eleito, graças ao apoio do Barão de Vila Bela, deputado geral pela província de Pernambuco, passando no ano seguinte a participar do parlamento, com destaque, em face da sua origem, ao valor de sua oratória e da independência frente ao governo Sinimbu, do seu próprio partido. Ele, ao lado de outros jovens deputados, iniciou então a campanha contra a escravidão, em favor da abolição da escravatura. Nessa legislatura Nabuco combateu um projeto de exploração do Xingu, defendendo os direitos dos indígenas (1deg. de abril) e criticou o envio de uma missão governamental à China, visando estimular à migração de chineses que deveriam substituir os escravos nas fainas agrícolas. Nabuco verberou este projeto que classificou de tentativa de "mongolização do país".

Em 1880, houve a comemoração do terceiro centenário de Camões, no Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro com Nabuco como orador oficial, de "brilhante discurso". Sua energia em dissiminar idéias políticas não conheceu fronteiras, e no mesmo ano, em sete de setembro,
instalou na casa dele a Sociedade Brasileira contra a Escravidão, mais um desafio à elite conservadora da época, "que considerava", nas palavras de Manuel Correia, "a escravidão uma instituição indispensável ao desenvolvimento do Brasil". Foi aqui que Joaquim Nabuco aprofundou as divergências com o seu partido, o Liberal, e inviabilizou a sua reeleição.

Em primeiro de fevereiro de 1882 perde as eleições para a Câmara dos Deputados, quando disputou um lugar pela Corte, como representante dos abolicionistas, partiu para a Europa, para o que chamou de exílio voluntário. Em Londres viveu como advogado e jornalista (representante do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro). Foi à esta época que escreveu um dos seus principais livros, O abolicionismo, publicado em 1884.

Ano da campanha para a eleição, por Pernambuco, à Camara dos Deputados, defendendo ao lado de José Mariano, a causa do abolicionismo. Seus discursos e conferências foram reunidos no livro A campanha abolicionista, publicado em 1885, onde defendeu idéias bastante avançadas. Vitorioso sobre o candidato conservador, Machado Portela, foi entretanto expurgado pela Câmara.

Um ano depois, em 7 de Julho de 1885, houve o expurgo de Nabuco. Ato político que causou a maior revolta em Pernambuco. Então, o quinto degado distrito, formado pelos municípios de Nazaré e Bom Jardim, por decisão dos chefes liberais Ermírio Coutinho e Joaquim Francisco de Melo Cavalcanti, que renunciaram a disputa da vaga de deputado, elegeu Joaquim Nabuco para a Câmara.

É quando é acusado de atuação moderada na Câmara dos Deputados, ao defender o Gabinete Dantas e o seu projeto de libertação dos sexagenários. Em seguida à queda de Dantas, ele atacou as modificações feitas ao projeto pelo novo presidente do Conselho, J. A. Saraiva, que seria transformado em lei pelo Gabinete Cotejipe, a 28 de setembro.

Em 14 de setembro daquele ano, Nabuco apresentou à Câmara dos Deputados um projeto de lei em favor da federação das províncias, tentando concretizar velha aspiração regionalista brasileira. Um ano depois, em 15 de janeiro de 188, foi derrotado em eleição para a Câmara dos deputados ao tentar eleger-se pelo Recife.

Passou, então, a dedicar-se ao jornalismo escrevendo uma série de opúsculos, em que identificou a Monarquia com a escravidão e fez sérias críticas ao governo. Estes opúsculos se intitulavam O erro do Imperador, O Eclipse do Abolicionismo e Eleições liberais e eleições conservadoras, publicados em 1886.

Doi anos depois, retorna com vitória à polítca, 14 de setembro de 1887, Nabuco derrotou Machado Portela em eleição memorável no Recife, quando este, ministro do Império, tentava confirmar o seu mandato, voltando à Câmara para concluir o seu apostolado em favor da abolição.

Relata ainda Manuel Correia de Andrade, que no dia dez de fevereiro de 1888, Joaquim Nabuco teve uma audiência particular com o papa Leão XIII, ocasião em que relatou a luta pelo abolicionismo no Brasil, segundo o historiador "tendo possivelmente influenciado o grande pontífice na elaboração de uma encíclica contra a escravidão". Exatamente, um mês depois, em 10 de março de 1888, o Gabinete João Alfredo assume o governo com o propósito deliberado de abolir a escravatura no Brasil.

Nabuco apoiou e deu uma grande contribuição à aprovação da Lei Áurea, mesmo sendo considerado o Gabinete como conservador . Em seguida, quando os ressentidos com a abolição se lançaram contra João Alfredo, Nabuco veio em sua defesa, promovendo a 22 de maio de 1889, um dos seus mais memoráveis discursos na Câmara dos Deputados.

Naquele mesmo ano, 1889, em 28 de abril, Joaquim Nabuco casa-se com d. Evelina Torres Soares Ribeiro, filha do barão de Inhoã e fazendeiro em Maricá, na então província do Rio de Janeiro.

Em 21 de agosto, daquele ano, foi eleito deputado por Pernambuco, para a última legislatura do Império, sem ir ao Recife e sem solicitar o apoio do eleitorado. Começava a se desiludir dos processos políticos no país e temia pela queda da Monarquia, a quem era fiel, embora procurasse liberalizá-la e não poupasse críticas à instituição e ao próprio Imperador.

Proclamação da República, em 15 de novembro de 1898, por conta do seu posicionamento em favor da Monarquia, Joaquim Nabuco recusa-se, embora solicitado, a postular uma cadeira na Assembléia Constituinte de 1891. Justificou sua posição no opúsculo Por que sou monarquista.

Surge, então, em 21 de junho de 1891, o Jornal do Brasil, fundado por Rodolfo Dantas, com a finalidade de bem informar a população e de defender, de forma moderada, a restauração da Monarquia. Joaquim Nabuco é convidado a ser colaborador. Foi quando também voltou à advocacia e abrindo escritório em sociedade com o conselheiro João Alfredo. Não foram bem sucedidos na profissão e um ano depois fecharam o escritório.

Em 1892, Joaquim Nabuco e Evelina Torres Soares Ribeiro viajam à Inglaterra onde ficam por alguns anos. Joaquim Nabuco decide voltar à frequentar a Igreja Católica, abandonada na juventude, comparecendo às cerimônias religiosas e se confessando. Data de 28 de maio de 1892, confissão na Capela de Nossa Senhora das Dores. A comunhão só aconteceria no Rio de Janeiro, em 22 de dezembro do mesmo ano. Quatro anos depois, Joaquim Nabuco lança o livro Minha Fé, que foi publicado em 1986 pela Fundação Joaquim Nabuco. Na publicação relata seu processo de conversão.

No auge das disputas entre monarquistas e republicanos, em 1895, escreveu o folheto, O dever dos monarquistas, em resposta a outro escrito pelo almirante Jaceguai, favorável ao novo regime intitulado O dever do momento.

Então, no dia 12 de janeiro 1896 é publicado mainifesto do Partido Monarquista, no recém-fundado Jornal do Commercio, tendo como signatários, além de Nabuco, os conselheiros João Alfredo, Lafaiete Pereira, o visconde de Ouro Preto, Afonso Celso e outros.

É quando tem início um período de intensa atividade intelectual por parte de Joaquim Nabuco. Os anos que seguem entre, mesmo antes, em 1893 até 1899, Nabuco não aceita os cargos nem encargos da República, dedicando-se às letras, escrevendo livros e artigos para jornais e revistas.

"Alguns livros foram escritos, inicialmente, para publicação de seus capítulos, como artigos, nos jornais e na Revista do Brasil. Estes livros, quase sempre de comentários políticos, foram Balmaceda (publicado em 1895) sobre a guerra civil no Chile e A intervenção estrangeira na Revolta de 1893 (publicado em 1896) onde, além de analisar o desenrolar da luta, faz confronto entre Saldanha da Gama, maior lider da Revolta, e Floriano Peixoto, que encarnava a legalidade. Também deste período é Um estadista do Império (1896), seu principal livro, em que analisa a vida do senador Nabuco de Araújo e a vida política, econômica e social do país durante a atuação do mesmo. Ainda desta época é o seu livro de memórias, intitulado Minha formação, publicado parcialmente na imprensa e reunido em livro em 1900", relata Manuel Correia.

Outras datas:

1896 - Participa da fundação da Academia Brasileira de Letras, que teve Machado de Assis como seu primeiro presidente e Joaquim Nabuco como secretário perpétuo.

25 de janeiro de 1896 - Ingressa no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

9 de março de 1899 - Aceita convite do governo da República para defender o Brasil na questão de limites com a então Guiana Inglesa de que seria árbitro o rei Victor Emanuel da Itália. Iniciou um processo de afastamento do grupo monarquista e a sua conciliação com a República.

Em março de 1900 - Com a morte de Sousa Correia, ministro brasileiro na Inglaterra, recebe o convite do gabinete do governo ocupar este lugar, passando a ser funcionário da República. Nabuco inicialmente aceitou ser "plenipotenciário em missão especial" deixando a chefia da legação com o encarregado de negócios.

Em agosto de 1900 - Aceita cargo de chefe da legação em Londres e tornou-se, finalmente, funcionário da República.

Em dezembro de 1900 - Durante banquete que lhe é oferecido, na cidade do Rio de Janeiro, faz o discurso considerado como a sua declarada adesão à República.


1903 - Publica-se em Paris o livro O direito do Brasil (1a. parte) em que Nabuco analisa as razões do Brasil na contenda com a Inglaterra, a respeito de uma área territorial fronteiriça com a Guiana Inglesa.

14 de junho de 1904 - O rei Victor Emanuel da Itália concede laudo arbitral na questão da Guiana Inglesa, dividindo o território disputado em duas partes - 3/5 para a Grã-Bretanha e 2/5 para o Brasil - o que foi considerado por todos, inclusive por Nabuco, como uma derrota para o Brasil.

1905 - Criada a Embaixada do Brasil em Washington, Nabuco foi nomeado embaixador do Brasil, apresentando suas credenciais ao presidente Teodoro Roosevelt, a 25 de maio. Como embaixador em Washington ligou-se muito ao governo norte-americano e defendeu uma política pan-americana, baseada na doutrina de Monroe. Também viajou bastante pelos Estados Unidos e proferiu dezenas de conferências em universidades americanas.

Julho de 1906 - Organizou a III Conferência Pan-americana, realizada no Rio de Janeiro, com a presença do secretário de Estado dos Estados Unidos.

Em 17 de janeiro de 1910 - Morre em Washington, Joaquim Nabuco, como embaixador, vencido por longo período de doença.

É a partir de 9 de agosto de 1948, às vésperas do centenário do nascimento do abolicionista e conselheiro, que a sede da Alepe recebeu o nome de Palácio Joaquim Nabuco. A indicação foi do deputado Tabosa de Almeida. E chegou a ser criticada por uma comissão parlamentar, segundo informações disponíveis no site da Assembléia Legislativa de Pernambuco, "o grupo alegava que o nome do abolicionista deveria ser dado a ruas, praças, prédios escolares e outros, mas não ao Poder Legislativo, uma vez que Nabuco não apoiava o Regime Republicano Democrático".

O resultado foi a aprovação, por maioria esmagadora, da medida proposta de Tabosa, tendo como argumento o fato de "Joaquim Nabuco ter sido um abolicionista destemido e incansável, de carreira política, diplomática e estadista brilhante, embora monarquista convicto".

fontes de informação:
http://www.fundaj.gov.br/docs/nabuco/jn.html
http://www.alepe.pe.gov.br/

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